O PODER DA MÚSICA: NA FRONTEIRA DO BEM E DO MAL

A arte de produzir música é uma das atividades culturais que mais altera os comportamentos do ser humano. Segundo os dicionários Oliveira Olinto e o popular “dicionário Aurélio” de, Aurélio Buarque de Holanda, a música é “a arte de combinar sons que produzam um efeito agradável.” Em outras palavras poderíamos constatar que a música é uma espécie de poesia pronunciada de forma rítmica, isto é, uma poesia em verso ou prosa cantada e /ou acompanhada de notas e instrumentos musicais.
Através da música as pessoas conseguem alterar seus estados emocionais, isto é: de tristeza para alegria, de melancolia para euforia ou vice versa. Mas há que se considerar ainda que, não são unicamente esses estados emocionais que são alterados pela música.

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Na mitologia Grega, Orpheu encantava tudo que estava ao seu redor com a música: “Poeta e músico filho da musa Calíope e Apolo, deus da música, ou Eagro, rei da Trácia. Recebeu a lira (instrumento musical) de Apolo e tornou-se um músico tão perfeito que não havia nenhum mortal capaz de ser melhor do que ele. Quando Orfeu tocava e cantava, movia todos os seres animados e inanimados. Sua música encantava árvores e pedras, domesticava animais selvagens, e até mesmo os rios mudavam o seu curso na direção da música do jovem.” (Disponível em: http://picasaweb.google.com/orpheueamusica.)
É claro que Orpheu é um ser mitológico que, através de sua música realizava efeitos sobrenaturais. Mas será que a música poderia ser capaz de oferecer um poder de manipulação nos seres humanos?
Para tentar responder essa pergunta procurei investigar algumas instituições de poder que se utilizam de música, como por exemplo: organizações religiosas, militares, instituições medicinais, movimentos políticos, e grupos artísticos.


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Nesse artigo procurei levar em consideração não somente verificar a existência de poder nas palavras de ordem existente nas letras das músicas, como também das notas e ritmos musicais realizados após a execução da música. Um dos fatores interessantes nesse estudo é também saber que se o poder “é a capacidade de agir e de produzir efeitos desejados” (RUSSELL, Bertrand. Do Poder. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1989, p.24.), através da música, a dança ou o ritual efetuado após a ordem de seu discurso (o discurso da letra da música) seria então a manifestação de seu poder ou o seu efeito desejado, a ação. Nesses termos, constatamos que a música utilizada como instrumento de poder pode produzir efeitos benéficos no homem, como também catastróficos.
Em relação às instituições militares, pode-se dizer que no passado a música tinha a função de organizar os exércitos para as batalhas, separar tropas e táticas estrategistas: “Gongos e tambores são usados em batalhas, porque as vozes não são ouvidas; bandeiras e estandartes são usados, porque os soldados não podem ver um ao outro claramente. (...) Os gongos, tambores, bandeiras e estandartes são como instrumentos para unificar o exército.” (SUN - TZU. A arte da Guerra. Nacional. Japão/ Tóquio / Brasil / São Paulo: L & PM, 2000.).
No antigo testamento existem algumas passagens que demonstram o poder da música nas batalhas, como por exemplo na passagem que fala sobre “as Trombetas de Jericó.” Veja o que diz a passagem bíblica:

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“2. O Senhor disse a Josué: Vê, entreguei-te Jericó, seu rei e seus valentes guerreiros. 3. Dai volta à cidade, vós todos, homens de guerra; contornai toda a cidade uma vez. Assim farás durante seis dias. 4. Sete sacerdotes, tocando sete trombetas, irão adiante da arca. No sétimo dia dareis sete vezes volta à cidade, tocando os sacerdotes a trombeta. 5. Quando o som da trombeta for mais forte e ouvirdes a sua voz, todo o povo soltará um grande clamor e a muralha da cidade desabará. Então o povo tomará (de assalto) a cidade, cada um no lugar que lhe ficar defronte.” (JOSUÉ: Capítulo 06, Versículo 02 a 05. Transcrito da tradução portuguesa de Ludovico Garmus: Bíblia Sagrada, 31ª edição, sob a coordenação de L. Garmus, Petrópolis, Vozes, 1995, p. 240-2.).
É muito comum a utilização das músicas em organizações religiosas, pois a música possui um campo de atuação para diferentes situações. Se a pessoa está triste aparecerão músicas para alterar o estado emocional da pessoa, assim como em outras situações como por exemplo: músicas para encorajar as pessoas a enfrentar algum tipo de desafio, doença, medo ou frustração. Na maioria das celebrações religiosas brasileiras a música sempre ocupa maior destaque no quesito tempo, do ritual religioso, uma vez que ela também é utilizada como oração pelos participantes do culto ou cerimonial.
Ainda falando sobre as estratégias da música na guerra, pode-se dizer que os Hinos Nacionais eram recitados antes das batalhas com a finalidade de não somente “oferecer argumentos para os soldados matarem e morrerem no campo de batalha pelo seu país, como também para oferecer a eles um estado emocional que os encorajasse a lutar.” Basta observar também como algumas comunidades indígenas utilizam esse estratagema antes de enfrentar seus inimigos nos campos de batalha.


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Veja um trecho do Hino Nacional Brasileiro que retrata essa passagem: “Mas, se ergues da justiça a clava forte / Verás que um filho teu não foge à luta / Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!” (Letra: Joaquim Osório Duque Estrada Música: Francisco Manuel da Silva. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/hino.htm).
Na guerra, a música pode também produzir efeitos contrários. Na batalha de Laguna na Guerra do Paraguai ocorrida em 1867, quando os soldados paraguaios começaram a tocar os clarins e a entoar bandeiras e estandartes para amedrontar e desencorajar os inimigos, o efeito acabou sendo contrário ao resultado esperado. Pois os soldados brasileiros, que eram seus inimigos, adquiriram uma extraordinária força que os motivou e até encorajou-os a lutar. Veja um trecho do livro do Visconde de Taunay que retrata esse acontecimento:
“Aos últimos clarões do dia, vimos este destacamento que se formara a certa distância juntar-se ao grosso dos esquadrões inimigos que, em boa ordem desfilavam bandeiras desfraldadas, ao toque de clarins, evidentemente para nos provocar e, apressando-se ao que nos pareceu em ocupar o local exatamente onde a princípio quisera Lopes descansar (General Solano Lopes do exército paraguaio). Algumas balas que lhes despejamos vieram distender a animosidade dos nossos, exasperados pela sua cruel e covarde tentativa de queimar-nos vivos. Foi com verdadeira satisfação que verificamos quanto os nossos projéteis aceleravam a marcha desses adversários odiosos. Todavia a provação por que acabáramos de passar, naquele campo convertido em fornalha, era das que sobre o homem exercem irresistível ação física. A enorme elevação da temperatura, subitamente ocorrida bastava para explicar o acabrunhamento em que caímos e o desfalecimento moral que se lhe seguiu. Não sabíamos, aliás, como seria possível avançar.” (TAUNAY, Alfredo D’Escragnolli, Visconde de Taunay – A Retirada de Laguna. DANNERMANN, Fernando Kitzinger. 1867 – A Retirada de Laguna In: WWW.aretiradadelaguna:recantodasletras.com.br).
Como se percebe, a música possui uma função de organizar e promover ações nos homens sem que assim eles o sintam, isto é, manipulá-los sem saibam que estão sendo controlados. Além disso, ela ainda oferece um excelente método de tranquilizar as pessoas. Desde as canções de ninar das crianças até as esotéricas músicas de relaxamento utilizadas nas terapias da medicina moderna. Veja o que diz um artigo do médico neurologista Ricardo Arida sobre o poder da música de Mozart:


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"Um estudo mostrou que a atividade epileptoforme, isto é, as alterações eletrencefalográficas diminuíram com a música de Mozart. Foi sugerido que a música com alto grau de periodicidade e por longo tempo, tanto a música de Mozart, quanto alguns outros compositores como Bach, diminuíram a atividade das crises e possibilitaram melhora do desempenho em tarefas espaço-temporal”. Pesquisadores brasileiros da Universidade Federal de São Paulo também publicaram um artigo na mesma revista associando o efeito Mozart na epilepsia. O efeito Mozart refere-se a um aumento do rendimento ou uma alteração da atividade neurofisiológica associada a ouvir sua música. Este recente trabalho confirma os estudos anteriores que mostraram um efeito benéfico da musica de Mozart na epilepsia. Ainda, esse efeito tem sido mostrado não somente no sistema nervoso, mas também sobre o sistema cardiovascular. “O efeito relaxante da música de Mozart resultou na redução da frequência cardíaca em 23 indivíduos saudáveis.” (ARIDA, Ricardo, Cérebro & Corpo http://www1.uol.com.br/vyaestelar/cerebroecorpo.htm).
Gostaria de abrir um espaço para apontar outra situação que, aliada ao poder da música pode levar um indivíduo até a morte, ou o suicídio: “o poder da música nas relações amorosas.” Segundo a psicóloga Cheyla Toledo Bernardo em seu artigo: “Estatísticas do suicídio:” “As causas mais comuns do suicídio, em todos os tempos, são o desgosto pela vida, as depressões, os insucessos amorosos ou financeiros. Algumas pessoas são levadas a esse ato por desespero, outras chegam a premeditar o fim da própria vida. Todos têm como objetivo fugir das dificuldades deste mundo, passando para um mundo melhor ou simplesmente para o nada. www.abelsidney.pro.br/prevenir/texto4.html.”
Nesse sentido, sabemos que a música é um importante mecanismo de alteração do comportamento humano. Um indivíduo que esteja passando por momentos de melancolia, que se aprofunde em estabelecer contatos com músicas que o façam relembrar ou até impedir que as frustrações o abandonem, pode aprofundar-se em uma forte depressão levando-o a manifestar sua melancolia no corpo; desde alterações em seu apetite, passando por distúrbios emocionais até chegar à fase do suicídio. Ainda não existem estudos que comprovem que os suicidas são ouvintes de algum tipo de estilo musical que contribua para tal efeito. Entretanto não se deve descartar a hipótese de que a música pode influenciar a pessoa a viver aquilo que a música prega, pois existem músicas que auxiliam o indivíduo no processo de lembrança contínua do fato que o levou ao estado de melancolia. O melhor tratamento que um leigo como eu pode sugerir para uma pessoa que sofre uma decepção amorosa é fazer com que ela esqueça o trauma vivenciado em sua experiência partindo para outra.
No entanto, quando o apaixonado ouve uma música que o faz lembrar-se de sua desilusão amorosa ele fornece condições cine-qua-non para seu subconsciente produzir a depressão. Veja como um trecho de uma música ajuda o indivíduo a se lembrar dos fatos e acontecimentos marcantes de uma desilusão amorosa. No caso da música que apresentaremos a seguir, o autor fala da saudade que ele sente de sua filha que ele perdeu em um acidente de carro. No entanto muitos que já ouviram essa música pensavam que ela se referia à um amor não correspondido:
“Não sei por que você se foi / Quantas saudades eu senti / E de tristeza vou viver / E aquele adeus não pude dar / Você marcou a minha vida / Viveu, morreu na minha história / Chego a ter medo do futuro / E da solidão que em minha porta bate / E eu Gostava tanto de você / Gostava tanto de você / Eu corro, fujo dessa sombra / Em sonho vejo este passado / E na parede do meu quarto / Ainda está o seu retrato / Não quero ver pra não lembrar / Pensei até em me mudar / Lugar qualquer que não exista / O pensamento em você ...refrão”(Disponível em: WWW.vagalume.com.br/gostavatantodevoce/timmaia ).
A música de Edson Trindade é não somente uma música, como também uma poesia. O autor manifesta na música suas experiências de vida. Nota-se a existência de ícones na letra da música que o fazem lembrar-se do passado, como fotografias (e na parede do meu quarto / ainda está o seu retrato). É preciso dizer que esse poema cantado na voz de Tim Maia contribuiu para que muitos casais apaixonados repensassem e recuperassem suas relações conjugais, porém, não se pode descartar o poder que essa música possui para retardar o esquecimento de uma frustração amorosa ou uma perda de um ente querido, pois os ícones contidos na música que impedem o esquecimento (retratos, o adeus que não se pôde dar) são universais.
No período militar do Brasil (1964 a 1984) a música teve um papel fundamental para auxiliar na campanha pelo fim do regime. Tanto a direita (militares) como a esquerda (revoltosos) utilizavam a música como instrumento de informação para atingir seus objetivos de campanha. As músicas contavam histórias, denunciavam abusos, faziam campanha contra o regime ditatorial e registravam situações que a imprensa não podia noticiar. Quem estava no poder também utilizava os mesmos recursos para enfrentar os compositores e cantores que eram contra o regime político. Desde a censura até a constante divulgação das músicas que eram liberadas pelo regime nos meios de comunicação de massa daquela época (rádio e televisão) impregnando um “modismo.”


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Como se percebe, a música é um importante instrumento de poder. Ela manipula, organiza, separa, coordena gestos, altera e aflora sentimentos humanos sem que estes o percebam. Atualmente, algumas músicas no Brasil tem sido utilizadas como instrumento de determinados grupos apenas com o objetivo de atingir interesses comerciais. Com isso, aparecem pessoas difundindo pornografias, apologia à violências físicas e sexuais e também para disseminar ideologias políticas contrárias ao progresso do país movidas por interesses particulares. O mais curioso é que quase tudo aquilo que destrói e corrompe o ser humano vende.
Basta observar como determinadas pessoas tem sido exploradas através dos ritmos e rituais coordenados pelas músicas mais populares direcionadas às massas. Há uma extinção de valores culturais e sociais voltados a preservação da família, da sexualidade e da moralidade política impulsionada pelos meios de comunicação de massa. A exemplo disso podemos citar o estilo sertanejo.
A música sertaneja no Brasil é um estilo musical adaptado do Country Norte Americano onde o “caipira brasileiro” ou o nosso “homem do campo” recebeu alguns acessórios que o “modernizaram.”
Veja alguns deles: A enorme fivela prateada ou dourada em substituição ao antigo currião, a bota de cano longo com esporas e com detalhes em couro em substituição ao humilde “chinelo de dedos,” ou os “pés descalços” ou no que melhor definiu Fernando Collor de Mello “os descamisados”; a jaqueta de couro ou de Jeans toda enfeitada, pela camisa de cambraia de linho, a calça Jeans pela calça de linho e, por fim, o chapéu de palha todo desfiado pelo chapéu branco ou preto de feltro.


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De caboclo ou caipira do campo à Cowboy...como dizia Cazuza: “...São caboclos querendo ser ingleses...” (Burguesia – Cazuza. Disponível em: WWW.vagalume.com.br)
Com isso percebe-se que o “caipira brasileiro” se tornou “o peão de rodeios” ou o chamado “Cowboy.” Será que Charles Darwin, o autor da teoria da evolução das espécies, se caso estivesse vivo, chamaria isso de evolução da música e dos seus estilos ou... Perda de identidade?
Nas tradicionais quadrilhas escolares onde se representa o modo de vida do homem do campo brasileiro através de uma dança de roda com rituais como o “casamento do jeca” e uma fogueira no período das festas julinas ou juninas, é comum nos dias atuais que em algumas escolas ou comunidades surjam as chamadas: “quadrilha anos 80”(onde os dançarinos se vestem com roupas do estilo Elvis Presley) com jaquetas de couro, brilhantina nos cabelos e mascando chicletes, no caso dos rapazes e, as moças com saias rodadas e fitas nos cabelos no estilo das jovens norte americanas da década do Rock in Roall de Elvis. Por fim...O que dizer então da substituição da canjica, pipoca e a pamonha pelo cachorro quente ou hambúrguer na festa de São Pedro e São João? Afinal de contas, nós já substituímos o quentão, a tradicional pinga e nossos sucos naturais pela cerveja (alemã) e o refrigerante (americano).
Há ainda alguns “elefantes brancos” surgindo nas escolas como as “quadrilhas funk” e também a “quadrilha country,” onde esta última é até mais comum. Com a influencia daquela novela da Rede Globo “Caminho das índias” já está tendo até a “Quadrilha Indiana”...A pergunta é: Não estaríamos utilizando outras “fardas” e representações simbólicas contrárias aos nossos valores culturais ao invés de evoluir ou valorizar a partir do que é nosso? Em outras palavras: “Será que estaríamos sofrendo um processo de aculturação sobre as nossas tradições culturais através da música?”
Nos populares “pagodes” é comum encontrar a presença dos tambores e violas ditando os movimentos e as indumentárias das pessoas estimulando a libido sexual. Como exemplo desse fato citaremos um trecho da música do grupo “Terra Samba:”
“Quero te dar um banho, quero te dar um banho de chuveiro / Agora estou lavando o seu cabelo, deixando o sabonete escorrega..a..ar / O samba quando é bom, bom, bom, a gente pode fazer no banheiro / Cantando até debaixo do chuveiro, fazendo o corpo todo delirar / Pegue no joelhinho, com muito carinho / Vai subindo a mão, que emoção / Agora esfregue atrás, isso aqui tá bom dema..a..ais / Pegue no joelhinho, com muito carinho / Vai subindo a mão, que emoção Agora esfregue atrás, isso aqui tá bom demais / É o verão amor que mexe com minha cabeça / Provoca todo esse calor, levanta logo o meu astra..a..al / Eu quero uma pequena, uma loirinha geladinha...”( Terra Samba - Banho de Chuveiro. Disponível em: www.vagalume.uol.com.br/ ). Analisando a letra dessa música, percebe-se com isso que ela possui características afetivo sexuais que estimulam a libido das pessoas que a ouvem.
Sobre o conceito de libido, utilizamos um artigo da Dra. Vanilde Gerolin onde ela afirma que: “Libido é apetite, é instinto permanente de vida que se manifesta pela fome, sede, sexualidade, agressividade, necessidades e interesses diversos.” (Disponível em: www.portaldomarketing.com.br/Artigos/Jung/psicologia%PORTILLO,VanildeGerolimJungeosconceitosbásicosdaPsicologiaAnalítica ).
Nestes termos, percebe-se que a música dita movimentos nas pessoas que estimulam a libido sexual. Se essa música é direcionada a uma criança poderíamos imaginar, na medida em que ela é colocada em prática respeitando a ordem de seu discurso, como uma atividade pedófila ou, se for direcionada à um adulto ela registraria momentos íntimos de parceiros sexuais debaixo de um chuveiro, o que pela constituição brasileira deveria ser proibido à menores de 18 anos.
Agora imagine quando esses movimentos ditados pela música são feitos em público. Além de estimular a libido sexual também nos espectadores, exploram não somente o corpo dos protagonistas que exercem esses rituais como também induzem atividades libidinosas sexuais nas pessoas, vendem não somente uma imagem como também os produtos que a rodeiam, como a cervejinha popularmente conhecida como “loirinha.”
A origem da discussão estabelecida nesse artigo acerca do poder da música não é resultado de algum tipo de preconceito musical. Ela nasce de dois objetivos básicos: 1) mostrar o poder dos meios de comunicação de massa na arte da manipulação de pessoas e, 2) apontar as raízes e os alicerces dos conflitos sociais, políticos e culturais em nossa sociedade mobilizados pela música hipnótica.
Sobre o poder de influência da mídia na sociedade, veja um trecho de um artigo publicado na internet sobre a influência das novelas da Rede Globo nos divórcios no Brasil realizado por pesquisadores do B.I.D. (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Segundo os pesquisadores foi feito um cruzamento de informações extraídas de censos nos anos 70, 80 e 90 e dados sobre a expansão do sinal da Globo - cujas novelas chegavam a 98% dos municípios do país na década de 90. Segundo os autores do estudo, Dr. Msc. Alberto Chong e Dra.Msc. Eliana La Ferrara, “a parcela de mulheres que se separaram ou se divorciaram aumenta significativamente depois que o sinal da Globo se torna disponível” nas cidades do país. Além disso, a pesquisa descobriu que esse efeito é mais forte em municípios menores, onde o sinal é captado por uma parcela mais alta da população local. (...) O enredo das novelas frequentemente inclui críticas a valores tradicionais e, desde os anos 60, uma porcentagem significativa das personagens femininas não reflete os papéis tradicionais de comportamento reservados às mulheres na sociedade. Foram analisadas 115 novelas transmitidas pela Globo entre 1965 e 1999. Nelas, 62% das principais personagens femininas não tinham filhos e 26% eram infiéis a seus parceiros. Nas últimas décadas, a taxa de divórcios aumentou muito no Brasil, apesar do estigma associado às separações. Isso, segundo os pesquisadores, torna o país um “caso interessante de estudo.” Segundo dados divulgados pela ONU, os divórcios pularam de 3,3 para cada 100 casamentos em 1984 para 17,7 em 2002. “A exposição a estilos de vida modernos mostrados na TV, a funções desempenhadas por mulheres emancipadas e a uma crítica aos valores tradicionais mostrou estar associada aos aumentos nas frações de mulheres separadas e divorciadas nas áreas municipais brasileiras,” diz a pesquisa. “Disponível em: www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/01/090130_noveladivorciobrasil_np_tc2.shtml”.
Como se percebe, nossa interpretação sobre a influência do poder da música é um importante mecanismo de estudo para analisar os padrões e os rituais que coordenam o comportamento humano. Esse estudo já tem sido analisado por diferentes ângulos e, através desse artigo ele começa a tomar forma.
E já que estamos falando dos estilos musicais, gostaria de falar um pouco do Funk, estilo musical suburbano que ascendeu no país através do “Furacão 2000” à quase uma década atrás. Algumas das músicas desse estilo musical se baseiam no caos social, oferecendo problemáticas aos espectadores através de suas letras estimulando a criminalidade, a pornografia, os estrangeirismos linguísticos (gírias) e apologia à violência sexual, coisa que, como já foi dito, geralmente vende muito hoje em dia no Brasil.
Veja um trecho da música “Bonde do Tigrão” que ajuda a revelar esse fato: “vem pra cá com o seu tigrão/ vô te dar muita pressão /quando eu vejo um popozão / rebolando no salão / não consigo respirar / fico louco pra pegar / melhor tu se preparar / que o tigrão vai te ensinar / agora é ruim de tu fugir / que o tigrão vai te bulir / se tu corre por aqui / eu te pego logo ali / eu vou lutar até o fim / vou trazer você pra mim / e eu te chamo bem assim / uh só as cachorras / uh uh uh uh uh ! / as preparadas / uh uh uh uh uh! / as popozudas! / uh uh uh uh uh! / o baile todo! / uh uh uh uh uh!...”
Seria essa música a tradução de: “como efetuar um estupro?” Afinal, como diz a música: “quando eu vejo um popozão / rebolando no salão / não consigo respirar / fico louco pra pegar / melhor tu se preparar / que o tigrão vai te ensinar / agora é ruim de tu fugir / que o tigrão vai te bulir / se tu corre por aqui / eu te pego logo ali / eu vou lutar até o fim / eu vou trazer você pra mim...”
Como se percebe, o “Tigrão” da música é violento, possui tendências psicopatas, não tem respeito pelas pessoas e denigre a imagem das mulheres. Novos produtos, novas gírias, novos criminosos, novas prostitutas, novos tratamentos, novos costumes, novos mercados..., eis aí o mercado alimentado por esse estilo musical.
Assim como na guerra as músicas exploravam a ainda exploram de alguma forma os indivíduos para agirem conforme as ordens dos discursos de quem estava e ainda está por detrás do poder, é preciso reiterar que hoje, as músicas ainda provocam seus efeitos no ser humano levando-os não somente a agirem, consumirem, mas também separarem-se nos fãs clubes ou clãs chamados de: funkeiros, roqueiros, sertaneijeiros, baianeiros, Chicleterios, Iveteiros... Eis aí o capitalismo selvagem alimentando a guerra do preconceito musical e o poder da música e da mídia no Brasil.

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